Sinopse
Sobre loucuras e devaneios de mim mesmo.
Episódios
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#05 - O que nós vemos das coisas são as coisas
02/09/2020 Duração: 01minO que nós vemos das coisas são as coisas.Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nosSe ver e ouvir são ver e ouvir?O essencial é saber ver,Saber ver sem estar a pensar,Saber ver quando se vê,E nem pensar quando se vê,Nem ver quando se pensaMas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),Isso exige um estudo profundo,Uma aprendizagem de desaprenderE uma sequestração na liberdade daquele conventoDe que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternasE as flores as penitentes convictas de um só dia,Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelasNem as flores senão flores,Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 50.“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
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#03 PODCAST - A gente se acostuma mas não deveria.
20/04/2019 Duração: 04min@oinsuportavelwilliamyoutube.com/ytwsdkEu sei que a gente se acostuma. Mas não deveria ...A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem outra vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha pra fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o Jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita n
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#01 PODCAST - Na noite terrível, substância natural de todas as noites.
14/04/2019 Duração: 03min@oinsuportavelwilliamyoutube.com/ytwsdkNa noite terrível, substância natural de todas as noites,Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incómoda,Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.Relembro, e uma angústiaEspalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,Na ilusão do espaço e do tempo,Na falsidade do decorrer.Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;O que só agora vejo que deveria ter feito,O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —Isso é que é morto para além de todos os Deuses,Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver...Se em certa alturaTivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;Se em certo momentoTivesse dito sim em vez de não,